Na foto , da esqueda para a direita: Arthur, Talita (na linha de cima), Marko e Jefferson.
Duas pesquisas desenvolvidas no Instituto de Geociências foram vencedoras do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Instituto Vladimir Herzog. Uma delas foi na categoria “Ciências exatas, engenharia e tecnologia”. Talita Gantus de Oliveira venceu na seção Pesquisa de Doutorado, com sua tese “Planejamento territorial urbano para gestão de riscos e resiliência a desastres. Um estudo de caso em Santos, São Paulo”, sob orientação de Jefferson de Lima Picanço e coorientação de Ivana Almeida de Figueiredo Jalowitzki. Já na categoria Educação, Arthur Pereira Lima dos Reis venceu na seção “Pesquisa de Graduação”, com a pesquisa “Muito além do ingresso: permanência e inclusão de estudantes indígenas na Unicamp”, sob orientação Marko Synésio Alves Monteiro.
O Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos foi criado com o objetivo de fortalecer o compromisso entre a universidade pública e a sociedade no que se refere à defesa, direta ou indireta, dos direitos humanos das gerações do presente e do futuro. Talita Gantus de Oliveira emocionou-se com o Prêmio. “Apesar do avanço das mudanças climáticas e seus impactos, e dos inúmeros problemas socioambientais atuais aos quais a ciência precisa cada vez mais se dedicar, a Geologia ainda permanece afastada das demandas sociais mais emergentes. Ter recebido um prêmio que reconhece o impacto social do meu trabalho mostra que é possível que nós, geólogos e geólogas, nos voltemos cada vez para temas de interesse público”, afirmou. Sua pesquisa traz um aspecto ainda pouco explorado: como pensar políticas públicas de planejamento urbano para a mitigação das mudanças climáticas pelo viés da Geologia, direcionando o olhar para os territórios e pessoas mais vulneráveis a esse processo (negros, indígenas, mulheres e aqueles com menos recursos financeiros). “Minha pesquisa buscou analisar a orientação e efetividade dos processos de planejamento territorial e urbano para gestão de riscos e resiliência a desastres, tendo como foco de estudo o município de Santos, SP. Os resultados permitiram caracterizar a relação entre o processo de desenvolvimento territorial daquela cidade e a ocupação das áreas de risco a deslizamentos”, explicou. Segundo Gantus, a análise das condições sociais e materiais de vulnerabilidade das populações residentes em lugares sensíveis a desastres caracteriza a segregação socioespacial.
Já Arthur Pereira Lima dos Reis resgatou em seu projeto um traço de sua vida pessoal. “Eu cresci na Amazônia, no interior do estado do Pará. Na minha cidade, há uma comunidade indígena, então sempre estive rodeado pela cultura dos povos originários”, explica. O estudante, que se sentiu “extremamente honrado com este reconhecimento”, trabalhou em seu Trabalho de Conclusão de Curso como ocorrem os processos de permanência e inclusão destes estudantes na Unicamp após a implementação do Vestibular Indígena, em 2019. “Destaco o longo caminho que ainda deve ser percorrido para que estes alunos, para além de ingressarem em uma universidade de ponta, tenham condições de se formar e de pertencer neste espaço. Afinal, a universidade também é um território indígena", disse. “Estou muito grato por contribuir para a pesquisa acadêmica voltada às populações originárias, sobretudo na área de direitos humanos em educação”, celebrou.
Os respectivos orientadores, Jefferson de Lima Picanço e Marko Synésio Alves Monteiro, receberam com alegria o resultado das conquistas de seus orientandos. “É um coroamento do trabalho da Talita, cuja pesquisa é multidisciplinar, com uma preocupação forte com as pessoas em setores em situação de risco. A solução deste problema é a questão da moradia. E isso tem a ver como um direito humano básico, que é o direito à moradia”, afirmou Picanço. Monteiro lembrou o quão difícil foi conseguir coletar e analisar os dados, tendo em vista a burocracia e os prazos reduzidos de uma pesquisa de graduação. “Ele enfrentou tudo com tranquilidade. Seu trabalho ajuda a mostrar como ainda precisamos trabalhar duro para incluir muito melhor nossos alunos indígenas: não são apenas números, mas experiências (de exclusão, preconceito, dificuldades em estar em um contexto diferente) que apenas começamos a entender. Essa premiação ajudará a jogar luz nesses desafios que enfrentam esses alunos para usufruir do direito à educação e de participar de forma plena na vida universitária", finalizou o docente.
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Texto: Eliane Fonseca Daré
Imagens: Arquivo pessoal, Paulo Rufino e Antonio Scarpinetti.