Divulgado no Jornal da Unicamp.
Biólogo utiliza livros, filmes e animações na divulgação científica
Bob Esponja, A Pequena Sereia, Alice no País das Maravilhas, Pokémon, Rei Leão, Procurando Nemo estão entre os desenhos, filmes e contos que o biólogo Carlos Stênio utiliza como meios para propagar conhecimentos sobre ciência. Mestrando no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, o pesquisador explora a cultura pop para atrair a atenção de um público amplo, que nem sempre está familiarizado com os jargões científicos. Stênio já produziu diversos e-books, que têm sido utilizados por professores da rede escolar para o ensino de crianças e, recentemente, lançou o livro Pequena Sereia – Ciências do Mar.
O novo livro, explica o biólogo, está dividido em duas seções. “Na primeira, a biologia é adicionada pelos próprios personagens ao longo da história. Depois, há uma parte dedicada à biologia de forma direta, em que apresento todos os personagens e as informações sobre os animais correspondentes.” Stênio também recriou a história aproximando-a do Brasil. Uma das sereias, conta, é Iara, que faz parte do folclore do país. “Na história original, são sete sereias, cada uma responsável por proteger os sete mares. Reproduzi no livro a Iara, que é
responsável por proteger os animais de água doce.”
Para compor a obra, o pesquisador contou com a colaboração de amigos também biólogos. Juntos, pensaram quais seriam as características biológicas das sereias, caso existissem. Os conceitos de biologia, diz o autor, são apresentados também de forma que o leitor possa identificá-los em situações cotidianas. “O leitor, quando estiver na praia, por exemplo, pode identificar uma estrela do mar, a cor da areia, um peixe.”
Desde que os conteúdos sejam cientificamente embasados, reflete o biólogo, não há uma maneira correta de transmitir conhecimento. “Minha intenção é ensinar biologia de forma fácil. As pessoas começam a perceber que a ciência e a biologia não são tão difíceis e se interessam pelo que é próximo delas. Quando se usam palavras difíceis e formais, o público de fora da academia não consegue entender. Meu público, além de ser formado por crianças, também é formado por adultos que não têm acesso a conteúdo científico e não frequentaram a faculdade.”
Além dos livros e e-books, Stênio tem canais em redes sociais que somam 300 mil seguidores. Nos vídeos, o pesquisador utiliza trechos de desenhos para abordar assuntos e curiosidades da biologia. “Costumo dizer que as pessoas chegam em razão do desenho, mas ficam pela biologia.”
Stênio se interessou por biologia motivado pelo desenho Bob Esponja. “O criador do Bob Esponja é um biólogo marinho que elaborou o desenho a partir de uma revista de educação ambiental. Nela, havia a história de uma esponja que se desgrudava da mãe e ia conhecer o
oceano.” Para o biólogo, isso evidencia a existência de um vasto universo da cultura pop em que se pode explorar a biologia.
Em uma das séries mais populares de suas redes sociais, Stênio identifica qual seria o animal mais semelhante a um determinado pokémon. Muitas crianças, diz, indicam quais pokémons gostariam de ver analisados. Outro pedido que o pesquisador recebe com frequência é para a identificação e o detalhamento das características de animais pouco conhecidos. “Todos os meus conteúdos são baseados em artigos que leio no mestrado, e eu resumo esse estudo utilizando algum trecho de desenho ou filme. Comecei [a fazer isso] na faculdade. Os professores passavam algo, eu lia e tentava relacionar com a cultura pop.”
No IG, onde realiza o mestrado em Ensino e História de Ciências da Terra, o biólogo aborda temas da cultura pop e da educação infantil. Stênio está analisando como os filmes da série A Era do Gelo podem ser utilizados no ensino de geociências nas escolas. “Pegamos o currículo da BNCC [Base Nacional Curricular Comum] e estamos comparando com os filmes para ver o que os professores podem utilizar para explicar geociências”, conta.
Stênio mantém um projeto denominado Biologia Aplicada, do qual fazem parte os seus livros e e-books.
Um dos primeiros livros intitula-se Diário de um biólogo – Diversidade. A obra é narrada por um menino autista que, ao descobrir a diversidade do mundo animal, percebe o preconceito como uma construção social e não como natural. O tema do livro foi abordado em palestra do autor no TEDX, com o nome “O preconceito é um fenômeno social e não biológico”, disponível no YouTube. Ainda há o livro Alice no país da Biologia, em que a personagem é uma aspirante a bióloga que apresenta a fauna e a flora do País das Maravilhas, e o e-book Manual do Biologia Aplicada: covid-19, que o biólogo escreveu utilizando animações populares para facilitar a compreensão sobre a doença e a pandemia.
No site do projeto, www.biologiaaplicada.com.br, é possível encontrar também materiais de revisão para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) feitos em parceria com a historiadora Débora Aladim.
Texto: Liana Coll
Fotos: reprodução/divulgação
Edição de imagens: Alex Calixto e Paulo Cavalheri