Matéria publicada originalmente no site da Unicamp.
Estudantes de escolas públicas e privadas de todo o país estiveram na Unicamp no final de novembro para participar da fase presencial da Olimpíada GeoBrasil (OGB), que engloba a Olimpíada Brasileira de Geografia (OBG) e a Olimpíada Brasileira de Ciências da Terra (OBCT). O Instituto de Geociências (IG) da Unicamp recebeu 175 finalistas, distribuídos em 58 equipes. Cada Estado enviou entre duas e três equipes, das quais, obrigatoriamente, ao menos uma da rede pública de ensino. O evento é uma parceria entre a Unicamp, a Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), de Minas Gerais, a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e a Universidade de Brasília (UnB).
Para definir o número de medalhas na final, o regulamento previa que, do total de presentes, seriam entregues 10% de ouro, 15% de prata, 25% de bronze. Dessa forma, a Olimpíada Brasileira de Geografia contemplou 17 estudantes com medalha de ouro, 27 com prata e 46 com bronze. Já a Olimpíada Brasileira de Ciências da Terra contemplou 17 finalistas com ouro, 26 com prata e 44 com bronze.
A OGB possui uma fase nacional e uma fase internacional. A fase nacional tem duas etapas online e uma presencial. Cerca de 27 mil estudantes, em um total de quase 7 mil equipes, participaram das etapas online. Já a fase internacional da OGB, que depende de recursos financeiros e logísticos, consta da participação na International Geoghraphy Olympiad – iGeo para os alunos com o melhor desempenho na OBG e na International Earth Science Olympiad – IESO para os alunos com o melhor desempenho na OBCT.
Os docentes Raul Reis Amorim, do IG, Clibson Alves dos Santos e Márcio Abondanza Vitiello, do Instituto de Ciências da Natureza/UNIFAL-MG; e Pedro Maciel de Paula Garcia, da Faculdade de Geociências/UFTM foram os responsáveis pela organização da Olimpíada GeoBrasil. A doutoranda da UnB Carolina Santos Bonfim foi a coordenadora pedagógica. De acordo com Raul Amorim, “a Unicamp foi escolhida para sediar a fase presencial pela infraestrutura que apresenta e por facilitar a locomoção daqueles que precisam de aeroporto”.
Na fase presencial, as provas são individuais, com testes objetivos e práticos. Clibson Alves, que foi o coordenador geral da Olimpíada, explica que foi feita uma adaptação ao modelo da fase internacional da competição. “Na prova prática de Geografia, os alunos tiveram que montar um mapa em duas horas a partir de imagens de satélite. Também trabalharam com a questão da pressão – cada questão foi contextualizada com vídeos e havia tempo limitado para responder”, disse. “A prova prática de Ciências da Terra utilizou como base as amostras de minerais, rochas e o acervo paleontológico do saguão do IG”, completa. Raul Reis explicou que os armários do saguão foram numerados e que cada estudante analisou os materiais expostos. Houve ainda uma prova técnica em inglês relacionada a Geografia, que não serviu como ranqueamento. A prova será utilizada como uma das notas para a seleção de quatro estudantes que vão formar a equipe brasileira na 19ª Olimpíada Internacional de Geografia, que acontecerá em Bandung (Indonésia) em 2023.
“Por questões religiosas, uma estudante fez a prova após o pôr do sol. Ela permaneceu isolada no IG para não ter contato com os demais estudantes”, citou o docente do Instituto. Raul Reis destacou ainda que as meninas mais bem classificadas nas duas olimpíadas (Geografia e Ciências da Terra) ganharam o Prêmio GeoMina, que visa incentivar a participação das mulheres nas ciências. São as ganhadoras: Ana Beatriz de Sousa, Ana Beatriz Gomes dos Santos e Joana Liz Leite de Luna.
Enquanto estudantes realizavam as provas, professores e diretores de escolas participaram de palestras com Gabriele Cifelli, professora colaboradora do IG; Cassiano Gustavo Messias, coordenador técnico no Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e Raul Reis, que deu uma palestra sobre como fazer trabalho de campo também na escola, com diferentes perspectivas metodológicas.
Conquista da fase presencial
Para muitos estudantes, participar da fase presencial na Unicamp já foi uma grande conquista. Alguns percorreram longos trajetos até chegar ao IG. A equipe do Centro Educacional de Ibiassucê (Bahia), por exemplo, formada só por meninas, viajou por 19h para chegar à final. A escola participou pela segunda vez da final nacional.
A equipe da Escola Municipal Sabino Gomes, de Brejo Santo (Ceará), ficou em primeiro lugar entre as escolas públicas cearenses. Para a diretora da instituição, Maria das Graças Zacarias, “é motivo de orgulho ser representante do Estado”. A escola de ensino fundamental funciona há dois anos e já vem se destacando em olimpíadas. “Tivemos 12 equipes medalhistas na fase estadual”, conta. José Robson de Souza Silva, professor da escola, explica que o grupo competiu com outras 1.700 equipes no Estado. “Foi uma surpresa ir para a fase presencial e ao mesmo tempo uma grande conquista. É uma experiência incrível e ao mesmo tempo colabora para a construção do conhecimento, já que a pesquisa estimula muito o aprendizado”, disse.
Para os estudantes do nono ano da Escola Municipal de Educação Básica Isidoro Mari, de Lages (Santa Catarina), a participação na Olimpíada foi um estímulo. Erick Alejandro dos Santos Dias, por exemplo, participou a princípio para adquirir experiência, mas se surpreendeu com a classificação para a fase presencial. A participação dele na competição despertou o desejo de prestar o vestibular da Unicamp. Para o professor Rafael Tizato, “ter alunos participando dessa competição é incrível porque pesa o fato de sermos de escola de pública. Muitas vezes somos mal vistos no sentido de que não somos capazes. Como na Olimpíada tem participação de escolas públicas, privadas e militares, estou muito orgulhoso. Foi uma conquista muito grande, mas de algo que já vínhamos construindo ao longo de anos. É o fruto do trabalho e da escola associado ao protagonismo dos estudantes”.
Outra equipe que comemorou a participação na fase presencial foi a do Instituto Federal do Tocantins, em Palmas. A professora Andreia Cristina Cantuaria explica que o campus tem ensino integrado e que os alunos só tiveram duas tardes livres na semana para estudar para a olimpíada. “Foi um esforço muito grande deles de estar aqui. Quando os resultados saíram e viram que haviam sido classificados e que a nota deles era a maior nota do Estado, foi uma alegria muito grande. Foi a coroação do imenso esforço que nós como equipe tivemos para alcançar o resultado. O maior objetivo é o conhecimento e sei que aqui eles terão oportunidade de aprendizagem muito significativas. Participar do evento presencial já é algo muito importante”, concluiu.
Por Eliane Fonseca
Imagens: Divulgação
Edição de imagens: Paulo Cavalheri