Diversos são os desafios interpostos à educação superior para formar profissionais com competências cada vez mais alinhadas às necessidades do mercado de trabalho, o que demanda uma prática pedagógica baseada em metodologias de aprendizagem ativa. Tendo isto em vista, o Laboratório de Processamento de Informações Georreferenciadas (LAPIG) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp inaugurou um espaço de realidade virtual dedicado a diversas áreas de pesquisa – tais como geociências, artes, engenharia civil, arquitetura e urbanismo. O espaço foi financiado com recursos da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), do Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepex), da Reserva Técnica para Infraestrutura Institucional de Pesquisa (RTI-Fapesp) e da Financiadora de Estudos e Projeto (Finep) para uso no ensino da graduação e pós-graduação.
Diego Fernando Ducart, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais, coordena o LAPIG, que é parte do Centro Multiusuários HiperMev – a primeira unidade acadêmica do gênero, no Brasil, com aplicação de alta tecnologia. De acordo com o docente, a inserção de recursos tecnológicos na educação não é algo novo. O que muda na concepção atual é a participação do aluno no processo de ensino-aprendizagem. “Na realidade virtual (RV), há uma interface capaz de estimular os sentidos dos estudantes por meio de um ambiente criado a partir de um sistema computacional. São induzidos efeitos visuais, sonoros, táteis e até olfativos, permitindo que o usuário fique imerso em um ambiente simulado, com ou sem interação direta. Essa imersão contribui para um melhor entendimento do conteúdo e uma aproximação da realidade profissional muitas vezes de difícil acesso durante os cursos de graduação”, explica o docente.
Os professores Ana Regina Mizrahy Cuperschmid (FECFAU) e Diego Fernando Ducart (IG): estímulo dos sentidos dos estudantes por meio de um ambiente criado a partir de um sistema computacional
Os trabalhos de campo fazem parte da formação dos estudantes de geociências, e a pandemia trouxe muitos problemas ao impossibilitar tais atividades. De certo modo, isso acabou acelerando as pesquisas sobre realidade virtual na área. “Muitas universidades começaram a planejar e executar trabalhos de campo virtuais de forma a substituir os trabalhos que estavam proibidos de serem realizados. A partir de levantamentos aerofotográficos com drones, foram criados modelos digitais de afloramento de rochas. Esses modelos em 3D criaram ambientes simulados que podem ser visitados por meio dos óculos de realidade virtual. A RV permite ainda uma maior inclusão e motivação de alunos, por exemplo, com incapacidades físicas para mobilização em áreas de difícil acesso, ao trazer realidades de campo para a sala de aula”, explica o docente. Na Unicamp, as atividades de campo ficaram suspensas durante a pandemia, mas o avanço da tecnologia possibilitou ao LAPIG abrigar esse espaço. Com isso, foram adicionadas as letras RV ao nome do laboratório (LAPIG-RV).
Áreas de aplicação
Na área de Geociências, a realidade virtual pode ser utilizada para integrar diversos tipos de dados em uma interface de visualização avançada. “Isso permite uma navegação intuitiva com interação em tempo real. Quando o modelo gerado é visualizado em modo Desktop RV (computador ou notebook), o usuário tem uma visualização integrada de dados de superfície, como imagens de satélite, modelos digitais de elevação, estruturas geológicas, aspectos geomorfológicos, localização de obras de pesquisa, limites de áreas de proteção ambiental, parques, dentre vários outros. Há visualização também de dados de subsuperfície, como modelo geológico, geoquímico, geofísico, furos de sondagem e perfis geológicos”, explica o coordenador do laboratório. Em paleontologia, a RV pode auxiliar na compreensão das escalas de tempo envolvidas nessa área de estudo, assim como auxiliar na compreensão dos processos de formação de rochas e fósseis e na própria percepção de como eram os ambientes e os organismos do passado.
Já na Engenharia Civil, a realidade virtual pode ser utilizada, por exemplo, como ferramenta para aplicações de planejamento e execução de obras, fotogrametria, transporte e trânsito. “O uso da RV pode trazer avanços no ensino e aprendizagem em topografia com a visualização de levantamentos topográficos planialtimétricos; projetos de terraplenagem e locação de obras; transportes, com a possibilidade de visualização de dados reais do sistema viário coletados por sistema de mapeamento móvel em atual desenvolvimento pela Universidade; as-built; e monitoramento de estrutura, devido à possibilidade de visualizar estruturas construídas com localização de difícil acesso ou até mesmo de alto risco. As informações necessárias para o uso de RV na Engenharia Civil podem ser geradas com o uso de Sistemas Aéreos Remotamente Pilotados (Sarp), sistemas LiDAR e mapeamento móvel”, explica Ducart.
Imagem vista ao colocar os óculos de realidade virtual
Na área de Arquitetura e Urbanismo, a RV pode ser aplicada no ensino de desenho técnico, facilitando o entendimento da representação da construção; em projetos, tanto para visualização individual quanto para a colaboração remota entre os participantes; no desenho urbano, projetando as alterações no ambiente; na manutenção e operação, para identificação da infraestrutura embutida e acesso a dados de operação em manutenção; na reconstrução histórica, recriando edificações danificadas ou inexistentes. “O poder da RV reside em possibilitar a visita a locais normalmente não acessíveis às pessoas e permitir uma navegação realista em ambientes que normalmente não poderiam ser explorados. Sua aplicação no patrimônio cultural tem potencial de recriar locais históricos para fins educacionais, comissões especiais de projetos e características de vitrine em centros de visitantes”, diz o docente.
Atualmente, já estão sendo executadas pesquisas no LAPIG-RV conduzidas pela docente Ana Regina Mizrahy Cuperschmid e por alunos da FECFAU. O grupo reúne pesquisadores em torno dos desenvolvimentos recentes em Arquitetura e Tecnologia, com foco na virtualização da informação nos processos de projeto e construção, desde a concepção, representação e colaboração até a gestão do espaço construído, incluindo o patrimônio cultural edificado. As pesquisas investigam a utilização de Realidade Virtual (RV) e Aumentada (RA) para apoiar atividades do setor de Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação.
Os interessados em utilizar o espaço de realidade virtual para ensino ou projetos de pesquisa devem entrar em contato com o docente Diego Ducart através do e-mail dducartunicamp.br (dducart[at]unicamp[dot]br).
Por Eliane Fonseca Daré
Imagens: Divulgação IG
Edição de imagem: Paulo Cavalheri