
No dia 31 de janeiro o IG foi sede do workshop “Caminhos da Educação Superior para Mobilidade Elétrica”. Organizado pela Agência Alemã de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), o encontro teve como objetivo iniciar uma discussão sobre a necessidade de atualização de cursos do ensino superior para qualificar profissionais de acordo com a demanda do mercado de eletromobilidade. Na Unicamp, a organização ficou por conta da docente do IG, Flávia Consonsi, e do professor da Faculdade de Engenharia Elétrica, Luis Silva.
De acordo com Flávia, “com o crescimento do setor de mobilidade elétrica, profissionais que atuam no setor automobilístico e de energia necessitam de novos conhecimentos e habilidades”. Para discutir a formação desses profissionais, participaram do evento professores universitários, profissionais de empresas selecionadas e de Institutos de Pesquisa. De acordo com a docente do IG, foram convidados a participar do workshop profissionais ligados a eletromobilidade de instituições de ensino superior, como UFRJ, PUCMG, IFSULDEMINAS, IFSC,UFSC, UFG, UFABC, USP-POLI/São Carlos/FEA, UFSCar, FEI, Mauá, além de professores da Unicamp, e de empresas e associações como SAE, AEA, CPQD, CPFL, Bosch, Moura, WEG Motores, BYD e Eletra.
Os convidados participaram de palestras sobre a formação de recursos humanos no tema do workshop, com apontamento de experiências do Brasil e da Alemanha. Edgar Barassa, doutor pelo DPCT/ IG e pesquisador do LEVE (Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico), expôs resultados de pesquisas de sua tese e de um roadmap tecnológico, produzido por pesquisadores do LEVE, sob coordenação da professora Flávia sob encomenda da GIZ, no âmbito do projeto PROMOBe. Já Christian Burkard, vinculado à empresa FKA, spin-off do Institute for Automotive Engineering (ika) da RWTH Aachen University, apresentou um benchmarking internacional de disciplinas no campo da mobilidade elétrica.
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Na segunda parte do evento os participantes se reuniram e listaram temas de importância para serem ofertados no ensino em eletromobilidade, tanto em cursos de graduação, quanto em especializações. “O ponto de chegada seria o desenvolvimento de orientações para a estruturação de cursos, seguindo da demanda do setor privado brasileiro”, aponta Flávia. Com os temas listados, quatro disciplinas foram definidas como necessárias para esta área de formação: “Mobilidade Elétrica: Princípios básicos e integração à rede”; “Eletrônica de Controle e Gestão de Bateria (BMS) Para Veículos Elétricos (VEs)”; “Conhecimento e ética aplicados a mobilidade sustentável”; e “Gestão Estratégica da Eletromobilidade”.
Segundo a docente do IG, o passo seguinte ao workshop é treinar professores que se comprometam a inserir estas disciplinas em suas universidades. “Em princípio, não se pensa em ter uma área de Engenharia em Eletromobilidade. O foco será voltado a disciplinas eletivas para graduação e pós, que explorem aspectos diversos desta nova tecnologia”, destaca Consoni. Flávia coordena as atividades do Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico (LEVE) no IG e já vem trabalhando com a GIZ há algum tempo com o desenvolvimento de vários estudos ligados ao tema, como “Estudo de Governança e Políticas Públicas para Veículos Elétricos” e “Eletromobilidade no transporte coletivo: o caso da cidade de São Paulo”.
Cenário mundial
Christian Burkard fez uma avaliação sobre o cenário mundial da mobilidade elétrica. “Temos diferentes experiências com essas tecnologias. Vimos quais são as tecnologias boas e quais não funcionam tão bem. Com isso, vemos o que precisamos especificamente desenvolver a partir de agora”, destaca. Segundo o expert no tema, a China tem progredido rapidamente nessa tecnologia e já conta com cerca de 300 modelos de veículos elétricos. “Na Alemanha temos uma visão abrangente sobre a tecnologia. Não vai ser uma única tecnologia no mercado. Não é só a bateria para esse veículo elétrico, não só o carro híbrido usando placa ou motores a combustão interna. Vemos tudo em paralelo e isso deixa as coisas bem complexas, pois temos que decidir onde investir”, disse.
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Já segundo Flávia, o Brasil ainda está caminhando bastante lentamente nesse tema. “Temos poucas iniciativas por parte das empresas e as ações políticas precisam ser melhor organizadas e direcionadas. Ainda não vejo um foco alinhado por parte do governo brasileiro em torno da eletromobilidade. Mas há sim iniciativas diversas, por parte de cidades e de pesquisadores, que estão buscando compreender melhor esta indústria emergente”, diz. A docente lembra que está sendo estruturada uma Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica, com um Comitê Gestor, formado por membros do governo e representações de classe, e um Comitê de Ciência e Tecnologia (CCT), com vários pesquisadores brasileiros e do qual ela faz parte. Já com relação às universidades brasileiras, a docente relata que poucas estão se preocupando com o tema da eletromobilidade, o contrário do que ocorre na Unicamp. “Aqui já temos algumas iniciativas e o tema da formação de recursos humanos está entrando na pauta. Ainda em 2020, a Unicamp irá receber o ônibus elétrico, que será uma iniciativa bastante rica para estudos”, finaliza Flávia.
Por Eliane Fonseca
Fotos: Eliane Fonseca