Conhecer a geologia do município sobre uma bicicleta. Esse é o objetivo do projeto “Geobike, pedalando sobre as rochas de Campinas”, organizado pelo docente do Instituto de Geociências Wagner da Silva Amaral. As atividades ocorrerão mensalmente e são destinadas à comunidade acadêmica interessada no assunto, que saiba pedalar.
A primeira fase do projeto irá explorar a região norte do distrito de Barão Geraldo, onde afloram principalmente rochas sedimentares e vulcânicas do Grupo Itararé e da Formação Serra Geral, respectivamente. Segundo Wagner Amaral, “existem diversas feições interessantes registradas nas rochas da nossa região inclusive evidências de movimentação de geleiras observadas em alguns seixos facetados e polidos, bem como restos de fósseis vegetais de idade Permo-Carbonífera. Não são afloramentos perfeitos, mas será possível explorar e discutir muitos aspectos geológicos intrigantes com os participantes”.
As demais etapas do projeto deverão apresentar as rochas metamórficas do embasamento cristalino, que afloram no Parque Ecológico de Campinas e os granitos e gnaisses predominantes na região de Sousas e Joaquim Egídio. “As atividades serão designadas de acordo com o perfil do grupo formado. Vamos começar pelo entorno da Unicamp e do Grupo Itararé, em Barão Geraldo, que é uma região relativamente mais plana e que engloba áreas urbanas e rurais”, diz Wagner.
O docente conta que já percorreu as trilhas onde as atividades ocorrerão para verificar o percurso, o tempo e a segurança para os participantes. Os trajetos terão em média 15 Km, que deverão ser percorridos em cerca de 2h. Não há limite de idade, mas deve haver um preparo físico mínimo, pois, apesar de a maior parte do trajeto ser plano, há algumas irregularidades e subidas no decorrer do percurso. Amaral também recomenda aos participantes itens de segurança para o passeio: capacete, filtro solar e óculos escuro. Também é recomendado usar roupas claras, levar água e ter uma sinalização nas bicicletas.
Sobre as rochas de Campinas
Nas atividades de campo promovidas pelo IG, os alunos do curso de Geologia, exploram o que as rochas têm a oferecer. Para isso, buscam afloramentos didáticos e bem preservados das intempéries do tempo. “Mesmo com intensa ocupação urbana, Campinas tem muita coisa interessante para explorar. Então, por que não aproveitar o passeio de bike com uma atividade prática, descontraída e saudável que envolva os alunos do Instituto de Geociências e outras pessoas que têm interesse e gostem de praticar o ciclismo?”, questiona o docente.
O município de Campinas situa-se em uma área que abrange a Bacia do Paraná na sua porção oeste e o Embasamento Cristalino a leste. “Temos a ocorrência de uma variedade de rochas sedimentares, ígneas e metamórficas, dentro do perímetro de Campinas por conta da localização geográfica do município, com contextos geológicos bem distintos. Andando de bicicleta, é possível observar as rochas e algumas feições com mais detalhe”, explica Wagner. O docente realiza a maioria de suas pesquisas no Nordeste e em Minas Gerais. “Às vezes esquecemos de olhar nossa região e não enxergamos a potencialidade que existe para explorar ou desenvolver atividades de ensino/extensão. Outro objetivo desse projeto é, portanto, estimular o desenvolvimento de mais pesquisas no município”, revela.
Apesar de ter como foco inicial a geologia e geomorfologia da região de Campinas, o docente observa que pode haver uma expansão para áreas da Geografia e da Biologia. “Temos em Barão Geraldo fazendas, pastagens, ocupações por condomínios residenciais, pequenos nichos de matas preservadas e um potencial de flora e fauna muito rico. Começaremos com a Geologia, mas poderemos expandir o projeto, convidando colegas de outras áreas do conhecimento” disse.
Afloramento
Um dos afloramentos a ser visitado ocorre na porção norte de Barão Geraldo, formado por rochas do Grupo Itararé. Nele há evidências de que houve movimentação de massas de gelo, durante as glaciações Neopaleozoicas, cerca de 300 milhões de anos atrás. “Há seixos de fontes distintas dentro de um pacote de rochas sedimentares, denominados de diamictitos, que têm como principal característica ter uma face plana, polida, que pode ter sido causada pelo atrito durante a erosão das geleiras. Essas estrias nas rochas mostram que algo as empurrou. Isso é uma forte evidência de que geleiras passaram por aqui. Cabe ainda ressaltar, que a poucos quilômetros de Campinas na região de Salto e Itú, existem diversos registros de atividades glaciais muito bem preservados. Durante as atividades do projeto, vamos tentar observar essas feições nos afloramentos, que não são fáceis de serem identificadas num primeiro momento”, disse Wagner.
As atividades desenvolvidas pelo projeto Geobike devem ocorrer a partir da segunda quinzena de agosto e serão gratuitas. Interessados devem entrar em contato pelo e-mail wamaralunicamp.br (wamaral[at]unicamp[dot]br).
Por Eliane Fonseca
Fotos: Divulgação IG