A professora do Instituto de Geociências da Unicamp, Jacinta Enzweiler, é desde julho de 2018 presidente da “International Association of Geoanalysts” (IAG), uma sociedade internacional dedicada ao avanço da ciência geoanalítica e que apoia as necessidades de profissionais e pesquisadores na área da geoquímica analítica. Ela é a primeira mulher e a primeira brasileira a ocupar o cargo.
A entidade foi fundada em 1997, tem base na Inglaterra e cerca de 200 associados em todo o mundo. A IAG atua na interface entre a metrologia (a ciência das medições) e a sua aplicação à análise química e isotópica de materiais geológicos e ambientais. Dentro deste escopo, a IAG possui dois programas por meio dos quais executa testes de proficiência. O mais antigo é o GeoPT, dedicado a laboratórios que regularmente realizam análises de rochas com matriz de silicatos. O segundo é o G-Probe, voltado para técnicas de microanálise.
Os laboratórios que participam dos testes recebem, por ano, duas amostras de homogeneidade estabelecida que devem ser analisadas pelos métodos de rotina adotados por cada participante. Os resultados analíticos, enviados aos organizadores dentro de prazo pré-estabelecido, são avaliados estatística e tecnicamente. Por fim, os participantes são notificados sobre o seu desempenho e podem confrontá-lo quanto aos seus próprios requisitos e ao nível geral dos demais. As amostras analisadas partem da Inglaterra, mas têm origem em várias partes do mundo. A participação regular de testes de proficiência serve para investigar eventuais discrepâncias analíticas e, se necessário, corrigir procedimentos, sendo um requisito para laboratórios acreditados. O Laboratório de Geoquímica do IG participa desde o primeiro GeoPT, realizado há mais 20 anos.
A experiência da IAG com a realização de testes de proficiência possui uma conexão com outra atividade da entidade que é a produção e a distribuição de materiais de referência geológicos. A primeira destas atividades é uma atribuição do Comitê de Certificação de Materiais de Referência da IAG e, por este motivo, a sociedade é um membro de ligação do Comitê de Materiais de Referência da Organização Internacional de Normalização (ISO/REMCO).
Resultados de análises químicas e isotópicas de amostras geológicas são essenciais para compreender os processos que se passam num planeta dinâmico como a Terra, seja na formação de rochas ou na sua transformação constante, mas dificilmente perceptível no dia-a-dia. “A análise de materiais geológicos é feita há muito tempo e a compreensão atual da natureza de vários processos geológicos é o resultado cumulativo do esforço científico nesta área. À medida que novas ferramentas surgem, dados mais refinados e novas interpretações servem para aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos naturais. Por outro lado, dados realmente úteis requerem uma série de condições nos laboratórios que realizam as medições de forma a adequadamente controlar e garantira sua qualidade. Auxiliar os geoanalistas neste propósito é uma das missões da IAG”, disse.
A IAG publica o periódico Geostandards and Geoanalytical Researche, do qual a docente é co-editora chefe. A publicação é dedicada a artigos científicos voltados ao avanço da ciência de materiais de referência, das técnicas analíticas e da qualidade de dados gerados. A associação também divulga notícias na revista Elements, que é uma publicação bimestral internacional de mineralogia, petrologia e geoquímica.
Os associados e outros interessados têm oportunidade de se encontrar no evento científico trienal “Geoanalysis”. O de 2012 ocorreu no Brasil e o mais recente, em meados de 2018, na Austrália. Estudantes de pós-graduação brasileiros já foram premiados no evento ou receberam auxílio da IAG para participar dele. O mandato de Jacinta tem duração de três anos. Como presidente, a docente fomentará a continuidade das atividades tradicionais da entidade, mas com atualização constante à luz de novas necessidades, acordadas em discussões e decisões que ocorrem em cada reunião semestral da diretoria da sociedade, bem como em workshops dedicados a tópicos específicos e para os quais especialistas e cientistas renomados na área são convidados. Um aspecto que a diretoria atual da IAG está tratando com grande atenção é a sua renovação, procurando atrair jovens geocientistas que desempenham papeis de liderança em laboratórios geoanalíticos.
Formação
Jacinta Enzweiler é graduada em Química com ênfase em Geoquímica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e tem licenciatura plena em Química. Fez mestrado em Química na Unicamp, onde também concluiu seu doutorado em Ciências. Fez estágio de pós-doutorado em Geoquímica Analítica no Department of Earth Sciences, Open University, na Inglaterra. Obteve a livre-docência pela Universidade de Campinas, onde é professora titular do Instituto de Geociências. Lidera um grupo de pesquisa em geoquímica ambiental e analítica e atua em temas relacionados com a caracterização química de materiais geológicos e o estudo da distribuição de elementos em terras raras em águas superficiais e subterrâneas. No IG, é coordenadora do Laboratório de Geoquímica e participa do Comitê Gestor do Laboratório de Geologia Isotópica.
Por Eliane Fonseca
Fotos: Arquivo Pessoal