O Fórum Permanente "O Desastre da Mina Córrego do Feijão (MG): universidade e a sociedade em busca de soluções" reuniu na quarta, dia 8, no Centro de Convenções da Unicamp, especialistas de diferentes áreas e instituições de pesquisa interessados em debater e discutir o rompimento das barragens em Brumadinho e Mariana e suas consequências.
O docente do IG e coordenador do Fórum, Jefferson Picanço, abriu o evento agradecendo todos os envolvidos na realização do evento e aos membros do Grupo de Pesquisa e Ação em Conflitos, Riscos e Impactos Associados a Barragens (Criab), do qual é o líder. “Agradeço a vocês que têm dedicado seu tempo e seus esforços no sentido de construir esse grupo multidisciplinar tão cheio de esperança e boa vontade”, disse. O Criab tem representantes de quase todos os Institutos, Faculdades, Núcleos e Centros de Pesquisa da Unicamp, além de pesquisadores e cientistas de outras Universidades e Institutos de Pesquisas, como Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e Embrapa.
Além de Picanço, a mesa de abertura também foi formada pela docente Muriel Gavira, assessora da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, que no evento representou o pró-reitor Fernando Hashimoto. Muriel parabenizou o grupo de estudos por sua atuação e por apresentar abordagens diferentes do problema. “Trazer esse tema para a Universidade e dialogar, trazendo pesquisa e extensão claramente integradas repercute em ações de ensino não só da Unicamp. Ressalto a importância desse grupo e desse evento para evitar desastres semelhantes como esse”, disse.
Na primeira palestra do dia, “Geograficidade e confluências nos desastres tecnológicos da Samarco (2015) e da Vale (2019), o professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Alfredo Costa compartilhou sua experiência da expedição que percorreu o Rio Paraopebas e as comunidades afetadas pelo rompimento da barragem em Brumadinho. O docente, que também esteve em Mariana logo após o rompimento da barragem, mostrou fotos impactantes de desastre e relatos de moradores das áreas atingidas pelo fluxo de lama no Rio Doce. Entre os pontos de destaque, Alfredo relatou a falta de governança na gestão dos danos dos desastres e o silêncio da empresa em dar informações à população.
Renato Lima, do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná, foi um dos convidados da mesa “Os desastres em Brumadinho e Mariana poderiam ser evitados?”, formada também por Wilson Yomasa, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, e Fabrício Soler, consultor em direito ambiental. O Cenacid tem a missão de diminuir as perdas e o sofrimento da sociedade em desastres. “No caso de Brumadinho, classificamos a destruição ao longo do trecho do fluxo de rejeito e construímos um mapa da capacidade destrutiva e um de direções internas do fluxo de rejeitos. Isso permitiu aos bombeiros realizar suas tarefas de busca e resgate, que ameniza o sofrimento das pessoas que aguardam informações sobre os desaparecidos”, disse. O docente falou também sobre o CRIAB. “O grupo tem condição de se instrumentalizar para contribuir efetivamente. Isso só se faz de modo interdisciplinar e multidisciplinar. É muito bom ver a Unicamp tendo esse tipo de iniciativa”, disse.
No período da tarde, a professora Leila Ferreira, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp abordou a governança nas áreas do rompimento. Em seguida, uma mesa redonda reuniu Maria Naíse de Oliveira Peixoto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Juliano Costa Gonçalves, da Universidade Federal de São Carlos, e José Mario Martinez, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp. Juliano abordou aspectos das barragens do ponto de vista sociológico e da tematização dos riscos relacionados a essas estruturas. “Podemos tentar avançar do ponto de vista da criação de uma segurança que permita que esses riscos sejam minimizados ou que sejam conhecidos e tratados de uma forma correta para permitir que as pessoas se sintam mais seguras. Se buscamos um desenvolvimento da melhoria da qualidade de vida das pessoas, tornar nossa sociedade mais segura é um pressuposto do qual não podemos abrir mão”, disse. Já Martinez afirmou que a Matemática age de modo a auxiliar o entendimento desse tipo de evento. “Somos conscientes de que para ter modelos matemáticos precisamos primeiro de modelos conceituais”, apontou.
Maria Naíse tem como experiência maior na área de desastres o evento de deslizamento que correu na região serrana do Rio em 2011, quando coordenou um programa de extensão na UFRJ. A docente afirma que tais questões devem fazer parte do mundo acadêmico. “Esse fórum tem um papel acadêmico relevante para mim. Ele mobiliza pessoas interessadas em ouvir o que não está no seu manual didático e isso é muito importante”, apontou.
Para Jefferson Picanço, o fórum “foi importante no sentido de tornar pública a discussão sobre meio ambiente e sustentabilidade no caso das barragens de rejeito. Também foi importante por trazer pesquisadores envolvidos diretamente com os desastres de rompimento de barragens, com os quais o Criab está criando parcerias. No momento em que tudo parece levar para um ‘esquecimento’ do problema, a Universidade pública puxa a discussão e traz para si parte da responsabilidade de discutir e apontar soluções”.
Por Eliane Fonseca
Fotos: Divulgação IG