Discutir o rompimento das barragens em Brumadinho e Mariana, reunindo dados do que se sabe sobre as causas do desastre, sobre a legislação de barragens e sobre a situação da população que habita a região. Estes são alguns dos objetivos do Fórum Permanente "O Desastre da Mina Córrego do Feijão (MG): universidade e a sociedade em busca de soluções", que ocorre nesta quarta, dia 8, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento é coordenado pelos docentes Jefferson de Lima Picanço, do Instituto de Geociências da Unicamp (IG); João Frederico da C.A Meyer, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc); José Mário Martínez (Imecc); e Claudia Pfeiffer, do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb). O Fórum é destinado tanto a pesquisadores quanto a pessoas interessadas em entender os rompimentos.
De acordo com Jefferson Picanço, que lidera o Grupo de Pesquisa e Ação em Conflitos, Riscos e Impactos Associados a Barragens (CRIAB), criado para estudar Brumadinho, a programação foi elaborada de modo a abranger diferentes aspectos do desastre. Serão discutidos de modo mais pontual o rompimento das barragens em Brumadinho e em Mariana, mas já refletindo esse acontecimento associado a barragens de rejeito, com discussões envolvendo marcos legais e técnicos, impactos de curto, médio e longo prazos em termos econômicos e sociais e no meio físico (água, solos, biota), além dos riscos envolvidos pela presença de barragens de rejeito.
Na parte da manhã, o professor Alfredo Costa, do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, vai mostrar a situação das pessoas que habitam os vales que foram afetados. “Ele tem uma grande experiência em Mariana e também está estudando Brumadinho. Vai ser importante para sabermos como as coisas estão acontecendo por lá agora e como devem acontecer num futuro próximo”, aponta Jefferson Picanço. Em seguida, uma mesa redonda vai reunir pessoas com expertise em barragens: Wilson Shoji Yomasa, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas; Fabrício Soler, advogado especialista em Direito Ambiental; e Renato Lima, do Centro de Apoio
Científico em Desastres, da Universidade Federal do Paraná, que esteve em Brumadinho com Jefferson Picanço.
À tarde, a professora Leila Ferreira, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp vai abordar a governança nas áreas do rompimento. Já a segunda mesa redonda vai reunir pesquisadores que vão discutir o que deve ser feito daqui para frente. Maria Naíse de Oliveira Peixoto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vai detalhar como ficou o território frente a esse desastre e o que vai acontecer com as pessoas e com o meio. Juliano Costa Gonçalves, da Universidade Federal de São Carlos, tem experiência em desastre ambiental e rompimento de barragens e vai falar sobre como as pessoas são afetadas e como são tratadas pelo poder público. José Mario Martinez, do (Imecc), integra o CRIAB e vai falar sobre o uso da matemática para entender como ocorre o rompimento e o fluxo da lama.
Acesse a programação
CRIAB
O fórum tem também a função de sedimentar as ações do CRIAB, que já teve duas grandes reuniões. Segundo Jefferson Picanço, na segunda reunião, que ocorreu em março, houve uma divisão dos pesquisadores em quatro áreas de atuação: barragens, educação e sociedade, meio ambiente físico e biótico e saúde e saúde psicossocial. O grupo de barragens reúne matemáticos e engenheiros para entender as barragens e como é a política de nacional nessa área. Também tem matemáticos que vão ajudar a interpretar dados para entender o fluxo de lama, fornecendo informações que permitam auxiliar diversos tipos de pesquisa. Já o grupo de educação e sociedade deve ser o primeiro a ir em Brumadinho e é formado por principalmente por antropólogos, cientistas sociais e educadores. O grupo de meio ambiente físico e biótico está centrado no Instituto de Geociências da Unicamp, mas reúne também profissionais do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da Embrapa. O grupo de saúde e saúde psicossocial vai trabalhar com questões como a saúde das populações afetadas e questões psicossociais, como a questão do luto.
Em 24 de maio ocorrerá uma reunião geral com todos os grupos temáticos do CRIAB. A reunião ocorrerá no auditório do Imecc, onde serão realizados diagnósticos da situação de Brumadinho e onde serão discutidos os próximos passos de ações do CRIAB. “Espero que consigamos produzir ações. Isso demora um pouco porque é um projeto de longo prazo. Precisamos ter um pouco de paciência”, diz Picanço. Para o docente, o rompimento foi tão violento e tão absurdo que despertou um sentimento de solidariedade. “O grande problema é que, quando o tempo passa, o grau de intolerância que era absurdo há meses atrás, hoje já está reduzido. Temos que lutar contra a gravidade do acontecimento. Uma das coisas interessantes do grupo é continuar suscitando debates para que esse assunto não saia da memória das pessoas. Não podemos esquecer porque as pessoas de lá precisam que não esqueçamos. Se a gente esquecer, vão ser vítimas muito fáceis, como já foram”, aponta o docente.
Há outras barragens em situação similar ou pior que Brumadinho. “A sociedade precisa se posicionar e nós na Universidade igualmente, ainda mais nesse contexto política que vivemos. Por isso, a importância desse Fórum”, finaliza. O Centro de Convenções fica à Avenida Érico Veríssimo, 500, no campus de Barão Geraldo.
Veja o que já saiu:
Grupo multidisciplinar se reúne para estudar Brumadinho
Por Eliane Fonseca