Os docentes Bernardino Ribeiro de Figueiredo, Carlos Alberto Lobão da Silveira Cunha, Leda Maria Caira Gitahy e Renato Peixoto Dagnino foram homenageados durante a 264ª reunião da Congregação do IG pela luta de resistência contra a ditadura militar. Em 1°de abril de 2024 completaram-se 60 anos do golpe. Thiago Corrêa Zanini e Rafael Martins Revadam, representantes discentes da pós-graduação na Congregação, propuseram a homenagem como reconhecimento àqueles que dedicaram sua vida a combater o golpe.
Thiago Zanini lembrou que os docentes homenageados “são remanescente da luta contra o golpe militar e que ainda não haviam recebido uma homenagem formal por parte dos alunos do IG. Então, junto ao simbolismo da data, mostrou-se necessário homenagear esses professores como forma de reconhecimento de suas lutas e também da importância de seus papéis na fundação e consolidação de nosso Instituto”. O discente leu uma carta, com a homenagem aos docentes. Leia aqui a carta na íntegra.
Leda Gitahy representou Bernardino Figueiredo na homenagem. “Eu quero agradecer de todo o coração, porque o Bernardino não pôde estar aqui – está doente. Se estivesse aqui, lembraria que o professor Amilcar Oscar Herrera, criador do IG, era um exilado político. Ele foi exilado duas vezes na Argentina, em 66 e em 76. Então, esse Instituto foi criado por um exilado latino-americano, que era um grande democrata”, afirmou a docente. Gitahy também se recordou de Sandra Brizolla, outra docente do IG que participou do movimento contra o golpe. Brizolla faleceu em 2015. “Somos um Instituto que nasceu subversivo. Que nasceu com ideias diferentes de interdisciplinaridade, de salvar o planeta, de pensar em mudanças climáticas. Os textos do Herrera são proféticos”, disse. A docente também destacou a recente chegada de alunos indígenas à Unicamp e o “convívio diverso, tolerante e democrático, sempre em defesa dos direitos humanos”.
Carlos Lobão ficou feliz pela homenagem ter partido do corpo discente do Instituto. “As atividades a que se referem, nós as exercemos quando éramos alunos. Nenhum de nós já era profissional quando foi preso ou exilado”, disse. O docente lembrou dois pontos importantes citados por Ailton Krenak na posse da Academia Brasileira de Letras: a oralidade e o rito. “Não haveria texto se não houvesse oralidade. Os fundantes desse país, indígenas e os oriundos da diáspora forçada da África, conseguiram ao longo desses mais de 500 anos, principalmente nos mais de 350 anos de escravização negra, manter as suas histórias que procuramos manter até hoje através da oralidade”, disse. “Quando Krenak falou sobre rito, não falou sobre o burocrático ou formal, mas sobre o fato de que não há rito se não houver memória. Os ritos se referem à história. Na história do nosso país, a elite dirigente brasileira há mais de 500 anos se esforça deliberadamente para fazer uma população sem memória”, completou. Daí, a importância de ritos como o manifesto na Congregação de enaltecer a memória através da homenagem aos docentes.
Renato Dagnino referiu-se ao mesmo sentimento expresso por Lobão: a alegria de receber a homenagem a partir dos alunos. “Quando eu tinha a idade de vocês, estava terminando o curso de engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eu era defensor da tecnologia, nacional e por isso, fui expulso”, lembrou. Dagnino estudou então Economia na Universidad de Concepción, quando leu os textos de Herrera, no início da década de 70. “Vim para a Unicamp para organizar a primeira incubadora de empresas da América Latina. Ali conseguimos convidar Herrera para um seminário, que na época já trabalhava com política científica e tecnológica. Um pouco mais tarde, com a vinda dele conseguimos criar o primeiro centro fora dos países centrais para trabalhar a relação ciência, tecnologia e sociedade”, lembrou. E adicionou: “queríamos ser multidisciplinares e sabíamos que isso só é possível quando há um pensamento contra-hegemônico comum. Por isso, selecionamos profissionais que, como nós, eram de esquerda”. Terminou dizendo que fica feliz em poder deixa aos mais jovens o conceito de tecnociência solidária.
Thiago Zanini entregou uma cópia da carta a cada homenageado após as respectivas falas.
Texo e fotos: Eliane Fonseca Daré