Por José Mario Martínez
Imagem: Antoninho Perri
Quase todos os modelos que nos são familiares são modelos de alguma coisa: uma maquete é uma reprodução, em escala reduzida, de um cenário, um móvel ou uma máquina; um camundongo é um bom modelo para um ser humano quando se trata da manipulação de órgãos e de testes de drogas; os engenheiros hidráulicos constroem modelos físicos que simulam situações da vida real, tentando descobrir, por exemplo, se uma barragem se romperá ou não. Tendemos a acreditar que a semelhança estrutural entre o modelo e o seu objeto implica a semelhança das respectivas funções. Os modelos seriam sombras manipuláveis das coisas reais.
A relação entre os modelos e as coisas em si tem sido objeto de agruras e controvérsias há séculos. Copérnico [Nicolau Copérnico] e Kepler [Johannes Kepler], que certamente acreditavam que os planetas giravam ao redor do Sol, driblavam os melindres dos líderes religiosos aceitando, quando necessário, que os esquemas heliocêntricos eram meros truques capazes de permitir bons cálculos astronômicos. Galileu [Galileu Galilei], mais impetuoso, teimava que o Sol ocupava realmente uma posição central e que a Terra girava a seu redor, e assim sofreu os conhecidos contratempos. Mais de trezentos anos depois, físicos do século XIX consideravam que o átomo existia apenas como um conceito e não como um objeto real.
Nessa trilha, Ernst Mach levou a tese da inexistência da coisa em si a suas últimas consequências. Para ele, apenas a previsão correta das medições tinha relevância, ao passo que sua retaguarda substancial carecia de qualquer significado. O Círculo de Viena, também conhecido como Sociedade Ernst Mach, rejeitava como especulação metafísica a existência real de muitas das construções que se propunham explicar medições empíricas: simplesmente não haveria necessidade de postular esse tipo de entidade. Acredita-se que Einstein [Albert Einstein] simpatizava com a filosofia de Mach nos tempos em que introduziu a Relatividade Especial, mas acabou firme partidário da existência de um universo objetivo, opondo-se à Interpretação de Copenhague, relativa à Mecânica Quântica.
Nós não precisamos mergulhar em profundezas epistemológicas para nos sentirmos desconfortáveis com a rigidez das correspondências entre modelos e coisas. Na Economia e nas Ciências Sociais, encontramo-nos frequentemente na presença de modelos de objetos que ostensivamente não existem. Paradoxalmente, isso não significa que tais modelos não possam ser, em algum sentido, úteis. Vejamos o caso do Modelo Mundial Latino-Americano (MML). Esse modelo foi elaborado nos anos 1970 por um grupo de cientistas liderados por Amílcar Herrera, que anos depois seria o fundador do Instituto de Geociências da Unicamp.
Tudo começou como uma resposta ao Modelo do Clube de Roma, desenvolvido no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e descrito no livro The Limits to Growth. O Clube de Roma fazia eco à tradicional postulação malthusiana sobre o conflito entre um rápido crescimento populacional e um crescimento lento dos recursos naturais. Como remédio, The Limits of Growth preconizava impor um controle de natalidade e suspender o processo de crescimento nos países do Terceiro Mundo.
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