O Instituto de Geociências sediou nos dias 2 e 3 de março o “II Workshop Internacional de Geomorfologia do Quaternário: Geocronologia de ambientes fluviais e costeiros”, realizado pelo Laboratório de Geomorfologia e Análise Ambiental, sob coordenação do professor Archimedes Perez Filho.
De acordo com Archimedes, há um conjunto de teses e dissertações defendidas por orientandos do docente na linha de pesquisa do Laboratório no qual vem-se trabalhando as transformações dos relevos terrestres de planícies de inundação. “Trabalhamos com a teoria de sistemas e equilíbrio dinâmico, que pressupõe que a natureza se encontra oscilando num equilíbrio que, em um determinado momento, pode se romper com a entrada de algum elemento novo que o altera”, disse Archimedes. Socialmente, os resultados desses estudos têm grande importância em função dos ciclos de precipitação das chuvas, que causam inundação. O grupo trabalha com a escala de tempo geológico do Holoceno, que engloba os últimos 10 mil anos. “Essas alterações são analisadas do ponto de vista sistêmico para entender a deposição do material, quando foi depositado, se houve ou não houve transversões do rio, se houve ou não enchentes”, disse o docente.
Pedro Proença e Cunha, da Universidade de Coimbra (Portugal); Servi Braví e Carlo Donadio, da Universidade de Nápoles Federico II (Itália); Maria Vitória Soto Bäuerle, da Universidade do Chile, trabalham em linhas de pesquisa muito próximas da que é desenvolvida no IG. Com isso, montaram uma rede em que há trocas de conhecimento. Houve um encontro anterior em que foram feitas apresentações dos resultados dos trabalhos do IG, da Itália e do Chile. “Há interesse em verificar se esses terraços fluviais ou terraços marinhos correspondem a geoindicadores de processos naturais e/ou são promovidos pela ação antrópica, interferindo na natureza e em escalas de tempo diferentes – geológica (em milhares/milhões de anos) e do homem (atual)", explica o docente.
Arquimedes contou com três Auxílios de Pesquisa Regular (APR) consecutivos da FAPESP para desenvolver os estudos. O grupo vem utilizando uma tecnologia internacional para datar as idades do material depositado de modo absoluto. “Trabalhamos em projetos desenvolvidos em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará. Há alunos identificando baixos terraços e fazendo as datações através de luminescência oticamente estimulada para saber qual a quantidade de luz que ficou retida em um grão de areia– qual foi o último momento em que se depositou luz na amostra.
Participaram da mesa de abertura do workshop os docentes Márcio Cataia - diretor da Unidade, Raul Reis Amorim – coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPG-Geo), e Archimedes Perez Filho. Cataia lembrou que o Laboratório é bastante dinâmico, com presença importante na Unidade. Archimedes agradeceu ao diretor da Unidade por todo o suporte que vem recebendo. “O professor Márcio tem sido um profissional da mais alta capacidade, tanto na área administrativa quanto na acadêmica. Ele tem nos dado todo o apoio possível, inclusive para a realização desse evento”, disse Archimedes. Já Raul Amorim lembrou de eventos promovidos pelo PPG-Geo que envolveram e vão envolver pesquisadores de instituições estrangeiras. Lembrou ainda os resultados publicados em periódicos internacionais com alto fator de impacto em colaboração com redes internacionais referentes aos trabalhos desenvolvidos no IG.
Após as atividades presenciais no IG, os pesquisadores seguirão para a foz do Jequitinhonha. “Vamos ter uma atividade de 10 dias de campo. Vamos do litoral do Rio e até o sul da Bahia para ver se está havendo avanço do mar para o continente ou não. No Jequitinhonha já temos prova de que o mar avançou 4km. O delta do rio deve desaparecer em mais uns 20 anos. Estamos fazendo uma modelagem para saber em quanto tempo isso vai ocorrer. Há cerca de 15 anos foi construído uma represa a 100 km da foz. Está ocorrendo uma quebra do equilíbrio dinâmico. A região que era de mangue está coberta de areia”, disse Archimedes.
A rede de pesquisa deve se expandir para outros países como Espanha e Uruguai. “Quero ampliar a relação com a América do Sul para saber se o que acontece na nossa costa acontece também no Pacífico”, disse.