O Domo do Araguainha, maior cratera de impacto da América do Sul localizado nos estados de Mato Grosso e Goiás, foi um dos três sítios geológicos brasileiros selecionados na lista “The first 100 IUGS Geological Heritage Sites”, promovida pela International Union of Geological Sciences (IUGS). A cratera foi a primeira do gênero a ser identificada no Brasil, pelo docente do Instituto de Geociências Alvaro Penteado Crósta, que começou suas pesquisas no Domo em 1978. O anúncio oficial ocorrerá no evento de comemoração dos 60 anos da IUGS no final de outubro em Zumaia, na Espanha. O Pão de Açúcar, no RJ, e a região do Quadrilátero Ferrífero, em MG, foram os outros dois sítios brasileiros selecionados.
O Domo foi objeto da pesquisa de mestrado de Alvaro Crósta. “Graças aos resultados desse estudo foi comprovado que esse sítio havia sido criado pelo impacto de um asteroide com mais de 1 km de diâmetro, há cerca de 250 milhões de anos”, disse o docente. A descoberta foi objeto de artigo científico publicada na época na Revista Brasileira de Geociências (atual Brazilian Journal of Geology, editado pela Sociedade Brasileira de Geologia). O Domo do Araguainha tem grande importância em várias áreas do conhecimento, como estratigrafia, petrologia, geoquímica e geologia estrutural. É a 15a maior cratera desse tipo no mundo, com cerca de 40 Km de diâmetro.
De acordo com Alvaro Crósta, em 2021 a IUGS lançou uma chamada mundial para que fossem apresentadas propostas de sítios de interesse geológico, cultural e científico. “As propostas passaram por uma comissão de mais de 200 especialistas e de 55 países de todos os continentes e de 13 organizações internacionais. Os sítios foram selecionados de acordo com critérios rígidos estabelecidos por essa comissão”, explica o docente. Dentre tais critérios estão, além do valor científico, o potencial para uso em atividades educacionais/culturais/turística, estado de conservação, acessibilidade e medidas de proteção.
A IUGS, que é uma comissão ligada à Unesco, define sítio de patrimônio geológico como um “local com elementos geológicos e/ou processos de relevância científica internacional, utilizados como referência com uma contribuição substancial para o desenvolvimento das ciências geológicas ao longo da história”, características que os três sítios brasileiros preenchem plenamente. A comissão pretende realizar um inventário do patrimônio geológico de relevância internacional, designando sítios geológicos de todo o mundo que são icônicos e reconhecidos por toda a comunidade geocientífica como referência por seu impacto na compreensão da Terra e sua história. “A lista deve ser continuada no futuro, mas os 100 primeiros serão registrados em um livro em formato de mesa com muitas fotos e imagens para todos os tipos de públicos – não só geocientistas”, diz o docente da Unicamp.
A proposta do Domo foi feita por Alvaro Crósta e pelos professores da Universidade de Brasília Uwe Reimold e Natália Hauser, que têm sido parceiros de longa data nos estudos do Araguainha. “Recebemos o resultado do processo com muita alegria. É uma honra para o Brasil, e em particular para a Unicamp, ter a proposta aprovada dentre os 100 sítios mundiais de interesse geológico”, comemora Crósta. A representante brasileira na comissão da IUGS - Joana Sanches, da Universidade Federal de Goiás - vai fazer a apresentação do Domo do Araguainha e dos demais sítios brasileiros no evento na Espanha no final de outubro deste ano.
Por: Eliane Fonseca Daré
Imagem: Joana Sanches