Durante 30 dias, cinco estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) foram recebidos no Instituto de Geociências para participarem de atividades científicas e culturais ligadas ao “Programa Ciência e Arte Povos da Amazônia” (CAPAM 2023). No dia 15 de fevereiro ocorreu o encerramento das atividades na Unidade com o Sarau dos Saberes. O evento reuniu os visitantes da UFPA, os monitores e a coordenadora das atividades no IG, docente Leda Gitahy, para uma roda de conversa em que todos exprimiram seus sentimentos em relação ao Programa.
A aluna de Direito, em Belém, Ana Carolina Sanches, indígena da etnia Baré, de Santa Isabel do Rio Negro, no estado do Amazonas, volta para casa com várias ideias a serem desenvolvidas após sua experiência no Capam 2023. Ela agradeceu à professora Leda por estar disponível para o Programa. “Muito obrigada por ter nos dado espaço para nós povos tradicionais que sempre fomos excluídos. Aqui temos indígena, ribeirinho, quilombola, extrativista. São povos da Amazônia em São Paulo. E aprendemos tanto. Fomos bombardeamos de conhecimento. Fiquei apaixonada por cada Instituto. E é incrível como isso pode mudar nossas vidas. Eu tenho muitos projetos em mente que quero levar para minha comunidade. Aprendi no Instituto de Artes a montar vídeos, a fazer desenhos. No Instituto de Química, trocamos conhecimentos sobre o uso do urucum. Foi uma troca de saberes incrível”, disse a estudante.
Para Márcia Cristina de Oliveira Cardoso, aluna de Licenciatura em Geografia em Ananindeu e quilombola de Moju Niri (no baixo rio Moju), a experiência também foi enriquecedora. “Hoje eu saio mais fortalecida. Devemos ocupar os espaços, mesmo que a gente tenha dificuldades”, apontou. Sua colega no CAPAM 2023 Jamylle Brenda de Souza Costa pensou em desistir de seu curso, mas se sentiu muito acolhida no Programa e resolveu seguir firme. Ela é quilombola de Barcarena e cursa Licenciatura em Dança no campus de Belém. “Às vezes a gente pensa que a nossa luta é grande, mas tem sempre alguém que tem uma luta maior que a nossa. E se eles conseguem, eu também consigo. Cada oficina foi muito importante pra mim. Foram palavras de apoio, de carinho. Eu saio daqui enriquecida de tudo e de todos”, disse.
O depoimento de Josilene da Silva Nunes foi como um grito de desabafo. Ela é líder indígena do povo Galibi-Marworno e natural da terra indígena Juminã, que faz fronteira com a Guiana Francesa, no município de Oiapoque – Amapá. Josilene falou sobre o retrocesso com os povos indígenas e a situação do povo Yanomami. “Passamos por retrocessos na educação, na saúde, nos direitos a territórios, nos lugares que a gente sempre está e que foram / estão sendo retirados dos Yanomami. Eles passaram momentos muito tristes. (E aqui) falamos de luta e de resistência. Isso para mim foi o que mais me definiu nessa caminhada”, enfatizou. Josi apontou que desde a primeira oficina do Programa foram tecidas reflexões com diferentes experiências. “Esses momentos foram maravilhosos. Agradeço por cada compartilhamento nesse tempo dedicado de vocês como monitores, professores, pesquisadores. E realizei o sonho de conhecer o Museu do Ipiranga”, disse a estudante de Licenciatura em História, do campus Belém.
Luciano Soares Coutinho é ribeirinho do Marajó e aluno de Licenciatura em Matemática (no campus de Breves). Na roda de conversa, ele disse se sentir realizado com as experiências vividas no CAPAM 2023. “Foi um período de experiências únicas que permitiu que adentrássemos dentro da vida de cada um. A nossa vida é uma grande árvore e essas ramificações, esses galhos que vêm crescendo são nosso caminhar. Essas caminhadas nos levam a lugares diferentes, pessoas diferentes. Vocês hoje fazem parte desse crescimento, dessa evolução. Vocês me mostraram outras possibilidades de opções que temos a seguir. Espero que possam vir frutos futuramente”, disse.
Depois da roda de conversa, ocorreu uma apresentação da Banda Forró Baile.
Além de oficinas, como a de uso de jogos em sala de aula, os visitantes da UFPA conheceram a Biblioteca do IG, a Biblioteca de Obras Raras, a Casa no Lago e vários Institutos da Unicamp, como o de Matemática, Estatística e Computação Científica, o de Artes e o de Química. Segundo Leda Gitahy, o objetivo para a próxima edição do “Programa Ciência e Arte Povos da Amazônia” é levar alunos do IG para trocar essas experiências nos diversos campi da UFPA. O encerramento oficial do CAPAM 2023 ocorreu na Casa do Lago.
Por Eliane da Fonseca Daré
Fotos: Comunicação IG, Maicon de Freitas e arquivo pessoal