Malena D´Elia Otero, doutoranda em Geociências do IG/Unicamp, foi a única brasileira selecionada para participar do “First Summer School of the International Association for Engineering Geology and the Environment: Impact of Slope Instabilities on Large Infrastructures”, que foi oferecido entre os dias 4 e 15 de julho na Itália e na Áustria. O objetivo do curso é oferecer jornadas de treinamento dedicadas a jovens profissionais da área de geologia de engenharia, nas quais se discutem problemas dentro dessa área e possíveis soluções.
Malena pesquisa sensores que permitem identificar antecipadamente a ocorrência de escorregamentos, fenômenos que levam à instabilidade de encostas e que podem afetar obras de infraestrutura. “Vemos isso acontecer em quase toda estação chuvosa no sudeste do Brasil, quando ocorrências deste tipo interditam estradas, por exemplo, ou, em casos mais graves, destroem moradias e levam a perdas não só materiais, mas principalmente humanas”, diz. Ela é orientada por Ana Elisa Silva de Abreu, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais. “No mestrado, trabalhei em laboratório, através da simulação de escorregamentos em uma caixa experimental. Todos os experimentos foram instrumentados com acelerômetros e o objetivo principal da pesquisa era verificar se esses sensores, que não são comumente utilizados para este fim, eram capazes de identificar sinais prévios ao escorregamento”, explica. No doutorado, a estudante partiu para a aplicação desses sensores em escala real, em uma encosta do Guarujá (SP) onde já aconteceram escorregamentos. “Vou utilizar sensores semelhantes aos da minha pesquisa de mestrado e também outros sensores para medição de umidade do solo. Caso seja confirmada a hipótese de que estes dispositivos nos permitem prever a ocorrência de escorregamentos, poderá se evoluir para a inclusão dos mesmos nos chamados ‘Sistemas de Alerta Antecipado’”, aponta Malena. A pesquisa é realizada em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT e conta com financiamento da FAPESP e da Capes.
De acordo com a docente Ana Elisa Abreu, os sistemas de alerta antecipado (SAA) consistem em sistemas de monitoramento e predição de perigos, e de prevenção de desastres, cujo principal objetivo é alertar a população com tempo suficiente para que esta possa adotar medidas de redução de perdas materiais e humanas, como por exemplo, a evacuação de uma área. Para a academia, interessa monitorar variáveis associadas ao processo de deflagração de escorregamentos, pois os SAA não buscam evitar que aconteça o escorregamento, mas agem na redução das possíveis consequências. “Tradicionalmente, no Brasil, onde os escorregamentos estão diretamente relacionados com as chuvas, os sistemas de alerta são baseados no monitoramento dos níveis pluviométricos e em relações empíricas de probabilidade de ocorrência de escorregamento em função dos níveis pluviométricos medidos. Incluir sensores que monitoram outras variáveis dentro destes sistemas pode tornar os SAA mais robustos e, consequentemente, mais confiáveis, além de permitir o monitoramento remoto, sem que exista necessidade de vistorias em campo em eventos perigosos”, explica a docente.
Essa é a primeira escola de verão organizada pela Associação Internacional de Geologia de Engenharia e Meio Ambiente (IAEG), que inicialmente estava prevista para ocorrer em 2019, mas por conta da Pandemia de Covid-19 não foi possível. A primeira semana do curso ocorreu na cidade de Aosta, no norte da Itália, e será predominantemente de aulas teóricas com uma visita de campo. Em seguida, os estudantes seguirão para a região de Tirol, na Áustria, onde ficam por 5 dias em atividades de campo. As aulas foram ministradas por professores de diferentes países. Para participar do processo, Malena passou por uma análise curricular e apresentou uma carta de motivação. Foram selecionadas 25 pessoas. “Eles priorizam alunos de doutorado e, caso não preencham todas as vagas com este perfil, aceitam alunos de mestrado ou pós-doutorandos”, informa a estudante. A expectativa da pós-graduanda do IG é saber o que está sendo pesquisado em outras partes do mundo sobre o tema e trocar experiências. “Oportunidades como esta, que nos colocam em contato com pessoas de diferentes lugares do mundo, nos permitem aprender formas novas de lidar com problemas. Quero saber como cada um, no seu local, monitora instabilidades de taludes, quais são as inovações nessa área e outras formas de abordagens às quais não estamos acostumados aqui; tudo isso ainda num contexto geológico muito diferente do brasileiro”, espera.
Por Eliane Fonseca Daré
Imagens: Arquivo pessoal e divulgação
Leia a matéria sobre a pesquisa de Malena no Jornal da Unicamp.