Bernardino Ribeiro de Figueiredo (2021)
No dia 30 de novembro de 2021, o Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou a concessão do título de Professor Emérito a Bernardino Ribeiro de Figueiredo, ex-diretor e pesquisador do Instituto de Geociências (IG). O título havia sido recomendado e aprovado por aclamação durante a 248ª reunião ordinária da Congregação do IG, que ocorreu no dia 25 de agosto de 2021.
O professor Bernardino dedicou 39 anos de sua carreira acadêmica à Unicamp, sempre preocupado com a importância da interdisciplinariedade, da cooperação e da relação da universidade/sociedade. Ingressou na Unicamp em abril de 1980, tendo contribuído de maneira destacada tanto para a implantação do Instituto de Geociências, como também seus cursos de pós-graduação a partir de 1983 e de graduação em 1998.
Um relato da trajetória acadêmica de Bernardino foi proposto e assinado pelos docentes Alvaro Penteado Crósta, Carlos Roberto de Souza Filho e Jacinta Enzweiler e apresentado junto à Congregação do IG. A comissão de análise do Consu foi presidida pelo professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) Júlio Hadler (IF).
O geólogo Bernardino
O professor Bernardino Ribeiro de Figueiredo foi o segundo diretor do Instituto de Geociências (IG), cargo que ocupou entre 1989 a 1993. Tranquilo, generoso e compreensivo, assim o descrevem colegas e ex-alunos, sem ignorar o currículo nada modesto do docente.
Tendo iniciado seus estudos em geologia na USP, viu-se obrigado a se exilar no Chile, em 1969, em função de sua participação no movimento estudantil, foco de resistência contra a ditadura no Brasil. Impossibilitado de concluir o curso na Universidade de São Paulo (USP), retomou os estudos na Universidade do Chile. Ali deu início à carreira profissional na área de Geologia Econômica e Metalogênese. Com o golpe militar do general Pinochet em 1973, ele, sua esposa Leda Gitahy e seu filho de 5 meses foram presos. Sob a proteção do Comissariado de Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), foram transferidos para um campo de refugiados na Suécia. A família se estabeleceu em seguida em Uppsala, onde residiram até 1980.
Nos períodos de férias, Bernardino trabalhava para o Serviço Geológico da Suécia e para a empresa de mineração Boliden AB. Com a aprovação da Lei de Anistia em 1980, regressa ao Brasil, já contratado pela Unicamp, após contatos iniciais com Amílcar Herrera. Posteriormente, colaborou também com a implantação da Universidade Federal do Oeste do Pará e no Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica da UFPA.
Como pesquisador, empenhou-se para que os resultados de suas pesquisas se transformassem em políticas públicas em nível nacional e internacional, notadamente na área de Geoquímica Ambiental e Geologia Médica. Em 2001, sua obra Minérios e Ambiente foi indicada ao Prêmio Jabuti e classificada entre os dez melhores livros na categoria Ciências Exatas, Tecnologia e Informação. Bernardino aborda ali a importância do conhecimento detalhado das fontes de metais para uma gestão dos recursos minerais com responsabilidade ambiental e social, visão até então pouco comum entre geocientistas.
Na Unicamp, coordenou um projeto de grande envergadura, financiado pela Fapesp, denominado “Paisagens Geoquímicas e Ambientais do Vale do Ribeira”, integrado por quinze pesquisadores das áreas de Geologia, Química, Saúde e Comunicação, de várias instituições, entre as quais o Instituto de Geociências e a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Iniciado em 2002 e com duração de três anos, esse projeto originou outros de temática similar, financiados por Fapesp, CNPq e Capes, e aos quais se dedicou até 2019.
Bernardino dedicou 39 anos de sua carreira acadêmica à Unicamp, mesmo após sua aposentadoria, em 2014. A preocupação com a interdisciplinaridade, a cooperação e a relação com a sociedade é uma constante em sua trajetória. Contribuiu para a formação de 22 mestres, nove doutores e dois pesquisadores pós-doutores. Apresentou dezenas de trabalhos em eventos científicos nacionais e internacionais. Suas pesquisas resultaram em 60 artigos, 4 livros e 23 capítulos de livros. Por sua contribuição acadêmica na Unicamp, recebeu duas vezes o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico “Zeferino Vaz”, em 1997 e em 2006. Foi diretor do IG entre 1989 e 1993, Diretor Presidente da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) e Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.
“O que mais me deu prazer na implantação do IG foi selecionar pessoas, porque o sucesso de uma instituição está nas pessoas. Precisamos formar o geólogo do século 21. E para isso a questão ambiental é fundamental. Optei por trabalhar com geociências e meio ambiente, uma preocupação vem desde a origem do IG. Uma linha ambiental que sirva à população foi uma constante na minha vida”, disse Bernardino. Como mensagem aos alunos da Unicamp, propõe: “Vamos resistir. Precisamos ser resilientes”.
Alvaro Crósta, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais e vice-reitor da Unicamp entre 2013 e 2017, ressalta a personalidade inovadora de Bernardino, e seu pioneirismo em áreas como a geologia médica. O agora professor emérito foi responsável pela sua implantação no Brasil, com um projeto da Fapesp voltado para o estudo da contaminação de chumbo de populações locais em função de antigas minas que operaram no Vale do Ribeira. “Foi um projeto modelar, com grande impacto na sociedade. Essa era a marca do Bernardino – pensar a geologia e as ciências da terra e seus impactos para o ser humano”, define Crósta.
Sérgio Queiroz, docente do DPCT, lembra que Bernardino assumiu a direção do IG em um momento delicado, tendo conduzido muito bem o Instituto naquele período. “Sempre que havia discussões importantes sobre o futuro da Universidade, buscava-se saber o que o Bernardino pensava”, conta Queiroz.
Leia a matéria publicada no Portal da Unicamp:
Bernardino Figueiredo recebe título de Professor Emérito da Unicamp
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